quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Última parada 174

Análise do filme-documentário: "Última parada 174"



Material analisado em três diferentes tópicos:

1º) A perceptividade da pobreza e o espetáculo;
2º) A condição do menor carente e o espetáculo;
3º) Vida carcerária, crime (inclusive o seqüestro)
e o espetáculo.


Discussão do primeiro tópico:

A perceptividade da pobreza e o espetáculo:

A pobreza é considerada na sociedade brasileira, como falta de capacidade, sinônimo de violência, e, por conseguinte, uma condição de inferioridade. Atribui-se a essa situação, a falta de empenho no estudo e ausência de perseverança na busca por uma oportunidade de trabalho mais favorável.
Desta forma, a classe desfavorecida economicamente, dentro de uma sociedade capitalista (cujo foco primordial em todas as relações interpessoais é o poder aquisitivo), na maioria das vezes, não tem nenhuma relevância. Se uma pessoa mora no subúrbio, no ponto de vista dos bem nascidos, não tem dignidade suficiente para figurar entre os moradores dos bairros nobres.
A classe pobre só aparece na mídia em momentos propícios para o show do sensacionalismo. Assim sendo, se reafirma a precária condição dos moradores dos morros, por meio da espetacularização dos fatos que chocam a sociedade. Os mentores do espetáculo, donos e funcionários dos veículos de comunicação, não estão interessados na busca de uma providência do governo, mas, pelo contrário, querem na verdade, acentuar a delimitação das posições sociais dos indivíduos e lucrar com os índices de audiência dos programas televisivos.
Não há uma análise crítica com relação aos fatos que desencadeiam os assaltos, seqüestros, estupros e assassinatos, haja visto que o alvo dos meios de comunicação é a exploração das tragédias como uma forma de lucratividade e acentuação do abismo entre as classes.


Discussão do segundo tópico:

A condição do menor carente e o espetáculo:

A situação na qual vivem os menores abandonados no Brasil é de absoluta calamidade. O seqüestro do ônibus 174 no Rio de Janeiro no dia 12 de junho de 2000, no bairro do Jardim Botânico, por Sandro Barbosa do Nascimento, é uma demonstração clara do descaso das autoridades governamentais com a vida das crianças carentes do país e do futuro delas, pelo fato de não possuirem um suporte familiar para receberem uma formação pelo menos básica.
O Sandro que tinha vivenciado a chacina da Candelária nas dependências da Igreja de mesmo nome, na madrugada de 23 de julho de 1993, deixando mortos e feridos, volta agora para fazer vítima, pois ele não quer mais sê-lo.
Não se pode justificar o seqüestro do ônibus pelo bandido, muito menos o assassinato de Geísa Firmo Gonçalves, como forma justa do revide de uma pessoa que teve uma infância problemática. Mas, também não se deve negar a falta de responsabilidade e investimento dos governos: federal, estadual e municipal nos menores carentes, que não tem estrutura social alguma, e sobrevivem totalmente vulneráveis a todo tipo de influência e degradação física e moral, sem sentimento algum de valorização enquanto seres humanos e muito menos enquanto cidadãos brasileiros.
A triste realidade é que a mídia não aparece para conhecer profundamente e denunciar a negligência das autoridades competentes, ela se apresenta para vender seus produtos ideológicos, que são os programas sensacionalistas, revistas e jornais, com foco na lucratividade e alienação dos leitores e telespectadores.
Quando a situação dos menores carentes é exibida, a intenção dos produtores dos programas televisivos é ganhar audiência, ou dar a oportunidade para alguma celebridade se destacar ainda mais, mediante uma ação que tenha realizado em favor dos menores, que, muitas vezes, serve apenas como um pequeno paliativo. A ação do “generoso” mesmo sendo continuada é insuficiente para resolver os problemas das crianças sem-teto do país.
Ao invés de servir de espetáculo, o caos no qual os menores vivem, deveria servir de pauta para investigações, com um direcionamento irrestritamente voltado para a cobrança de iniciativas do poder público, e subseqüente resolução dos problemas.


Discussão do terceiro tópico:

Vida carcerária, crime (inclusive o seqüestro) e o espetáculo:

Crime e seqüestro:

A criminalidade é o reflexo da falta de estrutura social e familiar dos delinqüentes.
Acredita-se que, se houvesse justiça social, igualdade na distribuição de oportunidade de emprego e de renda, por meio de um adequado investimento em escolas, saúde pública, construção de casas sociais, maior policiamento, menos corrupção, abertura de novas frentes de emprego, certamente o índice de violência não seria o mesmo.
O seqüestro, assim como outros atos de violência, é uma reação à diferença que existe entre as classes. Diferença com relação à dignidade como cidadão, oportunidade de ascensão social, visibilidade enquanto ser humano pensante e merecedor de respeito e atendimento das necessidades essenciais: boa moradia, salário adequado e serviço público eficiente.


Vida carcerária:

A realidade dos cárceres no Brasil é um exemplo categórico do descuido e fabricação em série de bandidos.
Os prisioneiros ficam ociosos, pois não tem um processo de qualificação e requalificação profissional, e não se oferece um curso minimamente profissionalizante para a colocação ou recolocação do ex-detento no mercado de trabalho.
Nas penitenciárias do país, poderia existir uma infra-estrutura apropriada, que garantisse ao preso, ter a possibilidade de “remissão”, ou seja, cumprir a pena, no mesmo tempo que alcança o crescimento pessoal, intelectual e profissional, enfim, tornar-se um indivíduo capaz de fazer parte da coletividade.
Os detentos ficam em um constante estado de inércia arquitetando mais ações criminosas, sofrem a influência de companheiros de sela mais perigosos, e saem dos presídios em uma situação de total perda enquanto ser pensante e apto para um bom convívio social.
Se pudessem estudar e trabalhar, além da descoberta de uma nova forma de vida pautada pela ética e pela responsabilidade enquanto ser provedor, eles teriam possibilidade de ressarcir o dinheiro público que é aplicado nas penitenciárias.


O espetáculo:

Pela deficiência do sistema penitenciário, os condenados pioram cada vez mais, e, quando aparecem na mídia são personagens do espetáculo promovido pelos próprios produtores dos programas midiáticos, tanto de entretenimento como informativos.
Os fatos que amedrontam a população cotidianamente são apresentados de forma circense. Estes são momentos nos quais os meios de comunicação, cinicamente, transformam a realidade em espetáculo, para única e exclusivamente atingirem grande audiência e, por conseguinte, aumentarem as cifras das contas bancárias dos donos da imprensa nacional.

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