quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A capacidade de se fazer compreender comicamente



O espetáculo que traz por título: “Quem disse que Inês é morta?!”, com texto e interpretação da atriz Zuzu Abuh, e direção de Fábio Saltini, é uma peça rica de propostas. Com mensagens variadas entre o dramático e a comicidade, uma única atuante, incorpora no palco diversas personagens com algum tipo de referência a história de Inês. Esta é a principal personagem do espetáculo. Uma dama espanhola, da Idade Média, mais precisamente século XIV, que foi assassinada a mando do rei Afonso IV, por ter consumado um romance proibido, para as conveniências monárquicas da época, com o futuro rei D. Pedro I de Portugal.

Uma história trágica que abrange amor, poder, adultério e morte. Todavia, pela forma como as temáticas da vida de Inês são reproduzidas é impossível a presença do sentimento melancólico. Existe a intercalação de personagens como: a dançarina (um misto do estilo funk com o oriental), uma cantora européia, um eletricista, uma faxineira engraçada e uma pseudo mística. Todas interpretadas por Zuzu. As figuras do drama, quando informam, simultaneamente, encantam a platéia com a pertinência das abordagens e surpreendente criatividade, ao possibilitarem diferentes visões dos fatos, que variam do banal ao pseudo transcendental. Pode-se perceber o traquejo para falar do trágico sem se despojar do espírito de diversão.

Trabalha-se o passado comparando com o presente, e procurando contextualizá-lo com situações verossímeis da vida pregressa de outros atores sociais. Quando a dançarina afirma que fez regressão e descobriu que na outra vida fora a rainha Cleópatra, uma mulher de muitos amantes, ela desmonta o mito da integridade feminina do mundo antigo, e busca apoio na historia para justificar a permissividade vivenciada na atualidade. Também, ao falar de uma amiga que na outra vida fora Inês de Castro, a amante do futuro rei, se promove a absolvição dos delitos da presente reencarnação.

Quando se pensa a concepção do histórico dissociado da comédia, geralmente se vislumbra a possibilidade de resgatar e esclarecer os fatos, evidenciando a fiabilidade da narrativa. Mas, a leitura da retratação de um acontecimento que não se despoja do humor, alcança o equilíbrio primordial para um trabalho artístico de qualidade e persuasivo.

Toda a trajetória de Inês é apresentada aos espectadores, entrecortada por personagens extremamente cômicos, que de maneira explicita ao sutil, reportam a platéia à existência indestrutível da senhora Castro. A habilidade perceptível com que se investiga e ilustra um percurso humano traspassado de conturbação, é intensa e revestida de suntuosidade.

As mensagens são emitidas no transcorrer do espetáculo com absoluta contundência e primor, e o fundamental é que o espírito de Inês em sua força, harmonia e aura da vida enquanto matéria se apossa não só da atriz, mas de todos que conseguem acompanhar de perto os relatos e interagir profundamente com a intérprete e sua Estrela.

A eternidade e inegabilidade da essência da dama espanhola possibilitam a introspecção acompanhada de profícua análise do homem, no sentido de cogitar e efetuar o resgate do Eu Supremo. Que é imorrível, supera o ultraje, o tempo e as densas trevas.

A valorização do Ser, nas circunstâncias proporcionadas pela peça, interposto nos meandros de estratos sociais tão díspares, além da utilização da comicidade intelectualizada e trabalhada por intermédio do recurso multiforme, é um dos temas de maior relevância na apresentação performativa.

O Ser é apresentado enquanto humano, transgressor, cúmplice, não-existência, eterno, desmerecido, perdurável. Enfim, ele é visto na sua inteireza de virtudes e imperfeições.

A grande dama Inês de Castro, enquanto protagonista de sua própria história, foi mulher, mãe, amante, esposa, realizada, infeliz, morta. Na qualidade de Ser em total existência infinita, é eterna, rainha dos portugueses, sobretudo de si mesma, soberana como vida diversificada e identificável, e sempre presente de forma interpessoal nos distintos tipos de ralações humanas e espiritualizadas.

Desta forma, aquela que se tornou rainha de Portugal, mesmo depois de morta, conquista a perpetuação, como a mulher que se transforma em heroína, sobrepujando seus próprios conflitos e morte, para comunicar aos interlocutores a grandeza da vida, mediante o enfrentamento da execução como ser humano e eternização enquanto pessoa iluminada.





Utilidade Pública:

Teatro da Livraria da Vila – Shopping Pátio Higienópolis

Sábado às 20h

Domingo ás 18h

Dias 29 e 30 de outubro.

domingo, 2 de outubro de 2011

Cultura Popular



A pronúncia do termo cultura popular em um primeiro momento já remete o interlocutor a uma espécie de cultura do povo, feita pelo povo e para o povo. De acordo com o escritor e professor de Antropologia Antonio Augusto Arantes (ARANTES, 1983), geralmente se pensa em algo de somenos importância, pelo menos do ponto de vista da elite social, partindo-se do princípio que, se procede do povo, ou seja, da massa social, não serve para a nata social que é a classe elitista. Mesmo porque nas sociedades capitalistas as coisas acontecem em um sentido inverso.
A moda, as gestualidades, os gostos alimentares, enfim, todos os produtos fabricados pela grande indústria da cultura, partem da elite para a população. Sendo assim, a cultura popular fica subentendida como cultura do “povão”, cultura inferior, simplória, cujo efeito só pode ser evidenciado no povo por causa das limitações dos fabricantes e a subseqüente qualidade restrita ou praticamente inexistente dessa cultura representada nos seus produtos e rituais.
Segundo (ARANTES, 1983), o termo cultura popular abarca uma infinidade de conceitos e concepções que vão desde a negação de que os fatos identificados nela contenham alguma forma de saber até a concepção dela como uma forma de resistência à dominação social pela classe favorecida.
Pode-se notar dois pontos de vista: de um lado um grupo de pessoas acredita não existir saber na cultura popular, para eles existe o fazer despojado da intelectualidade. Acreditam que esse tipo de cultura não traz nenhum verdadeiro enriquecimento cultural. Por outro lado, existe um grupo de pessoas que vêem na cultura popular até mesmo uma forma de contestação à dominação de classe. Percebem nessa cultura uma manifestação clara de reivindicação de direitos sociais que não são usufruídos pela classe dominada e desfavorecida. Desta forma, o próprio povo promove a cultura popular para não ser simplesmente povo, mas, acima de tudo, se estabelecerem na condição de cidadãos, com todos os seus direitos constitucionais garantidos.
Dentro do conceito de cultura popular também existem mais dois pólos muito pertinentes à análise: O primeiro refere-se a aspectos da tecnologia que abarcam técnicas de trabalho, procedimentos de cura e conhecimento do universo. Esse pólo está intrinsecamente respaldado no conceito de cultura proferido pelos antropólogos que compreendem a cultura como todas as ações e valores do homem dentro de uma determinada sociedade, com suas formas características de trabalho, conduta, e práticas naturais ou espirituais de cura, maneiras de entender o universo, crenças e conceitos gerais referentes à religião.
O segundo pólo enfatiza as formas artísticas de expressão como literatura oral, música, teatro, etc.; sendo que os componentes do primeiro grupo pensam a cultura popular como algo pertinente ao passado, que está em progressivo estado de aniquilamento, enquanto que, os componentes do segundo pólo compreendem a cultura popular como algo voltado para o futuro e, chegam a percebê-la como mantenedora de fragmentos de uma nova forma de sociedade a ser implantada.
A cultura popular, na verdade, retrata a história do povo que a promove, mas a nomenclatura “popular” é que causa um enorme preconceito por parte dos intelectuais. Entretanto, até mesmo a classe dominante se utilizada dessa cultura, pois ao falar de um país, ainda que não se queira, trata-se de pontos ligados às raízes da nação, aqui reside preponderantemente a cultura popular. Todavia, a elite ao se utilizar de fragmentos dela procura “maquiá-los” com o objetivo de tirar-lhes o efeito ou semelhança da pobreza.
Incorre-se a um erro com a efetuação de mudanças nas apresentações ditas da cultura popular porque, devido ao preconceito, primeiro a riqueza histórica lhe é tirada, depois, as encenações culturais não retratam a cultura com a grandeza que poderiam fazê-lo, se procurassem ao invés de focar essencialmente nos recursos técnicos, primar acima de tudo pela originalidade.
Arantes (1983) cita elementos que os brasileiros em geral consomem, mesmo tendo sido orientados a cultivar somente as práticas consideradas civilizadas ou cultas. Menciona, por exemplo, o samba, frevo, maracatu, vatapá, tutu de feijão e cuscuz. Seresta, repente e folheto de cordel. Congada, reisado, bumba-meu-boi, boneca de pano, talha, carnaval e procissão.
Alguns elementos são vistos em uma região outros em outra, com sotaque de pessoas de várias origens que adotam quando chegam ao Brasil, como italiano, chinês, japonês, alemão, árabe ou estadunidense ou ainda de uma forma sutil, cuja idéia do reprodutor fora higienizar a cultura despojando-a de características rústicas, reconhecidas como pobres e inadequadas.
Nessa higienização existe uma manifestação da busca pela apresentação de uma cultura que não seja popular. Os produtores, ou melhor, reprodutores da cultura popular que nos grandes palcos procuram retratar as formas de vida, as atividades costumeiras e elementares da sociedade desde os seus primórdios, na tentativa de “aperfeiçoar” a cultura, acabam apresentando-a de maneira adulterada que na verdade não retrata as autênticas formas culturais inerentes ao povo. Eles talvez não saibam que um objetivo que deveria ser primordial não foi cumprido, o de retratar a cultura popular com autenticidade, despida da higienização.
A cultura popular se traduz como o povo se auto-retratando. Apresentando à sociedade ou ao meio específico no qual vive à sua comunidade, região, arraial, uma visão panorâmica de sua condição como participante da história.
Arantes (1983) afirma que se apoderando de características, de rituais e práticas consideradas populares, as sociedades, inclusive, a brasileira, se expressam simbolicamente enquanto nação, mas, por causa do preconceito inerente aos mentores das apresentações, os perfis e desigualdades regionais não são apontados. Elementos que seriam de uma utilidade preponderante, pois, retratariam com veracidade o cotidiano dos grupos que “se pretende” mostrar.
Sem o efeito da indústria cultural, não se teria a possibilidade de escamotear as disparidades tão extensas da população brasileira. O que aconteceria se ao invés de os manipuladores apresentarem uma cultura popular deformada, condicionada aos seus interesses ideológicos, retratassem com autenticidade?
Pode-se acreditar que a tendência seria a cada oportunidade que se tentasse apresentá-la, mostrá-la cada vez mais enriquecida, não pelos recursos orquestrados pela intenção dos mentores da indústria cultural, mas, pelo contrário, ela seria apresentada de forma enriquecida pelas novas características do povo que estaria sendo retratado. Não mais descapitalizado, desvalorizado e vítima de ações preconceituosas, mas tratado com total dignidade e respeito e que, pelo fato de ter passado a ter acesso aos direitos pertinentes a todos os cidadãos, não pode ser retratado de outra forma senão, de forma primorosa, pois o primor é sua característica nata, sem o uso de nenhum engenho tecnológico.
Os teóricos revolucionários pensaram a formação de sociedades ricas preponderantemente no aspecto cultural, eles cultivavam um olhar sobre a sociedade que projetavam teoricamente, respaldados na indispensável justiça social e priorização da cultura por todos os agentes sociais mediante o conhecimento e as práticas intelectuais genuinamente concebidas e consolidadas.

















domingo, 31 de julho de 2011

Para gostar de filosofia


 A filosofia tem origem grega, e significa categoricamente amor à sabedoria. Ela estuda as inquietações da imaginação humana, por meio da dialética argumentativa. Existe uma reflexão racional sobre o universo e todos os seres, na busca de respostas ou, pelo menos no questionamento por si só.  Analisa-se a ética, os padrões comportamentais estabelecidos nas sociedades mundiais e, pensa-se a lógica dentro de um critério metodológico, que parte do princípio da necessidade constante da conquista de soluções satisfatórias ou paliativas para as situações que permeiam os humanos.
O conceito nasceu na Grécia, no século Vll a.C., e tem como pais Tales de Mileto e Pitágoras. Sendo que, Tales, foi o primeiro filósofo ocidental que se tem notícia, passando a ser desta forma, um marco da filosofia no ocidente.
Na Índia, a matéria tem surgimento e se consolida, por meio dos sânscritos Upanixades (parte das escrituras shruti hindus que discutem meditação e filosofia) e Vedas (escritos litúrgicos que formam a base do sistema religioso do hinduísmo).

O que seria de fato o Mito?
Uma palavra de origem grega, utilizada para explicar a realidade de forma simbólica. Por meio dele, busca-se dissertar sobre a existência do universo e do homem. E apresentar significados para acontecimentos, ilustrativamente. O mito é acompanhado pelo rito, que são as ações dos deuses e semideuses que influenciam no desencadeamento dos fatos na história. Sendo este manifestado também, mediante as tradições religiosas por intermédio de celebrações e orações.

Vale a pena definir Fábulas?
São composições literárias nas quais as personagens são animais, forças da natureza ou objetos, que apresentam características humanas, tais como a fala e os costumes. É um gênero narrativo que surgiu no Oriente, mas foi fortalecido na Grécia antiga, por meio de um autor chamado Esopo, que viveu no séc. Vl a.C..

História:
Traduz-se como o conhecimento advindo da investigação, e tem origem na Grécia antiga. É a ciência que estuda o homem, juntamente com suas ações no tempo e no espaço. A história acontece a todo instante. E ela se processa também, por meio da análise e comparação entre presente e passado.

O que seria a Argumentação dedutiva e intuitiva?
Na dedutiva se utiliza da sutileza por meio da percepção e generalização. Por exemplo, se a os gatos, até então vistos, são marrons, dir-se-á que todos os gatos são dessa cor. Chegou-se a tal conclusão ao isentar os possíveis demais animais da mesma espécie, da possibilidade de existirem em outras cores, por causa da constância de gatos em uma só cor. Enquanto isso, na indutiva, se parte do princípio das afirmações que expressam fortes indícios de certeza para os fatos, com o propósito de induzir o interlocutor a uma adoção de uma crença e/ou comportamento social, também para tomar uma determinada decisão por força das circunstâncias e uso do recurso dialógico. Por exemplo, se uma pessoa pretende levar a outra a dividir a herança, ao argumentar indutivamente, procurará sensibilizá-lo, com frases fortes e que o remetam aos desejos mais profundos do testamenteiro. Todavia, não se pode esquecer que tanto o argumento indutivo como o dedutivo, são sujeitos a falhas e ineficácia. 

Como explicar Liberdade e Responsabilidade nos dias atuais?
A liberdade é uma palavra de origem latina (libertas). Ela tem amplidão de especificações: liberdade física, de expressão, moral. Essa última possibilita ao indivíduo, por meio de uma análise racional, tomar as decisões aparentemente viáveis em determinadas ocasiões. Antes das ações, o cidadão no uso de sua liberdade de expressão e ação, também pensa as possíveis conseqüências que poderão advir do seu comportamento social.
Enquanto, em se tratando da responsabilidade, implica uma capacidade diante da sociedade para incorrer nas atitudes coerentes perante os demais membros sociais. Existe também intrínseca a obrigação moral, para responder por sua conduta no âmbito de convivência coletiva. Sendo assim, liberdade e responsabilidade são palavras e conceitos que se interligam. A primeira delega ao cidadão o livre arbítrio para agir em harmonia com o pensamento pessoal, sem esquecer as previsíveis conseqüências. E, a segunda é a habilidade congênita ou adquirida pelo homem para a participação social e cumprimento de deveres sem isenção do cumprimento de penalidades, quando existirem.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Escravidão Contemporânea

      Por
      Magno Viana

Em entrevista coletiva no dia 28 de abril do corrente ano, na Faculdade Cásper Líbero, o jornalista e cientista político Leonardo Sakamoto afirmou que sua principal função como fundador e representante da ONG (Organização não governamental) Repórter Brasil, é lutar pela erradicação de uma forma escravista de relação entre empregadores e empregados. “A nossa instituição é especializada na preservação dos Direitos Humanos, e o fundamental para nós é tornarmos públicos os casos de violação das prerrogativas dos trabalhadores e ações prejudiciais ao meio ambiente”, disse ele.
Segundo Sakamoto, as ações articuladas com o Congresso Nacional e os governos federal, estaduais e municipais têm funcionado. “Desde 1995 com a pressão da sociedade civil, foram criados grupos para a fiscalização de empresas, com vistas à punição em casos de escravidão de pessoas no mercado de trabalho”. E ele assegurou que “dessa época à atualidade, 41.000 mil funcionários escravos foram libertos”.
O jornalista falou também sobre a existência de um documento em mãos do Governo Federal, chamado Lista Suja do Trabalho Escravo, que é utilizado pela ONG como fonte de investigação. “São nomes de produtores rurais inescrupulosos. O material nos serve de matéria-prima para desencadearmos as denúncias. Raramente vamos direto às empresas”. Acrescentando, ele esclareceu: “Depois que constatamos o delito, tanto encaminhamos um comunicado à Presidente da República solicitando a libertação, como fazemos a denúncia para que haja uma ação socializatória por parte do governo”.
Ele garantiu que em praticamente todos os Estados brasileiros foi detectada a escravidão, que se configura na atualidade como situação de degradância na realização das atividades, “condições humilhantes, atraso de salário, alimentação imprópria, local inadequado para dormir e cerceamento de liberdade, que ferem a dignidade humana”, argumentou. “Só se tem dúvida sobre a existência do crime em apenas uns três Estados. A condição de trabalho na maioria é nojenta, como na China, que se desenvolve fabricando produtos sofisticados: ifone, ipad, entre outros, por conta de uma mão de obra barata e em detrimento à natureza”.
É nas áreas de agropecuária e extrativismo que a ONG tem mais impacto na luta contra o trabalho escravo, mas, de acordo com o cientista político “o problema existe na construção civil, no derrubamento de madeira, no cultivo de café, açúcar e álcool”.
Ratificando a afirmação, ele mencionou o caso da Cosan (uma das maiores produtoras mundiais de açúcar, etanol e energia elétrica a partir da cana-de-açúcar), que estava explorando funcionários. “Com a denúncia dos consignatários do pacto contra a mão de obra escrava, no final de 2009, a empresa passou a fazer parte da Lista Suja, com isso o Wal Mart, Carrefour e o Grupo Pão de Açúcar, deixaram de comprar seus produtos: combustíveis e açúcar, e o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), suspendeu quase 800 mil reais em crédito para a empresa. A Cosan caiu quase 6 pontos na Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) e 3,5 por cento na NASDAQ (Nasdaq Nacional do Mercado de Valores). Na mesma semana, por meio de uma liminar judicial ela conseguiu sair da Lista, mas, a lição que fica é o susto para que o delito não se repita”.
O cientista disse que “pelo fato de a Repórter Brasil ter mais liberdade para fazer uma publicação bem mais esclarecedora e sistemática, mesmo não sendo grande imprensa, ela age junto a essa, potencializando as ações mediante matérias feitas na íntegra, e serve como ponte de diálogo entre empresas, governos e sociedade civil”.
Asseverou o jornalista que hoje se comete os mesmos erros do passado, a corrida pela lucratividade a qualquer custo. “Estamos fazendo o que mais criticamos durante a ditadura militar, pois falávamos que o Brasil é um país que alcança o progresso econômico sem se importar que, para isso, tenha que passar por cima de muita gente”, afirmou.
No ponto de vista dele, o trabalho escravo e todas as conseqüências advindas, como doenças, violência e total situação de miserabilidade, é resultado do modelo de desenvolvimento escolhido e aplicado no país, que por sua vez é excludente, concentrador, egoísta e conflitante. “Morrer deixou de ser o cessamento da existência para ser o cessamento da propriedade”, complementou.
O desafio da Repórter Brasil, por intermédio da aliança com outras ONGs, governos, empresas privadas, órgãos públicos e pessoas físicas, bem como a sociedade civil em geral, é bloquear comercial e financeiramente os empresários que não respeitam as leis que regem as relações de trabalho.

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domingo, 19 de junho de 2011

Perfil: Ana Rocha Melhado


13 de junho de 2011


A moça que sofreu longe da família, sem amigos, e morando em um quarto de pensão, superou as privações e conquistou seu espaço em São Paulo.


Uma História de Sucesso
Um dia na companhia da mulher que consegue ser engenheira, professora, empresária, esposa, mãe e filha ao mesmo tempo.




Por: Magno Viana


Ana Rocha Melhado, uma pernambucana que venceu os desafios de ter que se afastar da família ao mudar de Recife para São Paulo, se sentir só e residir em um quarto de pensão sem conforto e privacidade, ainda assim não se permitiu abater. Está com 44 anos, há 18 em São Paulo, casada com o professor da USP Sílvio Melhado há 15, mãe de Felipe, um menino de 12 anos, pelo qual ela se diz apaixonada.
É sociável e dinâmica: ao chegar ás 09h40min, o horário que conseguiu estar na FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado) nesta segunda-feira, abaixa o vidro do Spacefox - Volkswagen 2006, e diz: “bom dia, estou mal das vistas hoje”. Ao interrogá-la se a doença era conjuntivite, ela responde: “Não sei, talvez seja uma alergia, acho que nem vou poder dar aula, terei que passar no oftalmologista, mas você pode me acompanhar”.
Assim como o nome é expressivo, o currículo também é: Engenheira Civil, Pós-doutorada em Gestão Ambiental de Bairros Sustentáveis pela ISO 14001 e pelo processo de certificação HQE® (Haute Qualité Environnementale), realizado em Paris. Além de lecionar na Faculdade de Engenharia da FAAP, é a Sócia – Diretora da Proactive, (empresa de consultoria, atuando nas áreas de Gestão de Projetos e Sustentabilidade Empresarial).
Ela se considera católica, e como faz questão de observar: “não praticante”, mas acha que precisa pensar mais um pouco sobre o assunto. Independente da questão religiosa demonstra nobreza: “minha maior lição de vida é a humildade, e acredito que quando fazemos a nossa parte o resultado aparece”. Mesmo tendo uma vida cheia de atividade: ensino, viagens, cursos e palestras, não abre mão de um período para curtir a família: “ontem fui com meu marido e meu filho a uma pizzaria, depois fomos para casa terminar de assistir um filme”.
Ao ter como maior sonho a possibilidade de transformar o setor da construção em uma verdadeira indústria, trabalhar na formação de jovens e incentivar o estudo, por outro lado, ela também revela o maior medo: “ver o meu filho sofrer”.
Depois de fazer o exame de vista na manhã do mesmo dia, a professora me convida para almoçar. Caminhamos em busca de um restaurante que ela tinha visto há algum tempo, e que tinha lhe chamado a atenção. Após alguns minutos de caminhada, ela diz: “não estou encontrando, vamos almoçar naquele lá de trás mesmo”. É o Restaurante Casa das Massas, de origem italiana, com um cardápio variado, e um ambiente requintado.
Durante a refeição ela fala sobre diversos assuntos como arrependimento, velhice, desafios. E afirma que tem inveja de pessoas que conseguem manter o equilíbrio mesmo diante de uma injustiça, e que o seu ídolo é seus pais, “sempre esperançosos e bem-humorados, a minha mãe é uma luz, é impossível você ver minha mãe triste”.
Saímos do restaurante a caminho da FAAP, na estrada, ela descontraidamente confessa: “tenho uma enorme vontade de um dia morar em Paris”. Faz comentários sobre a agradabilidade e facilidade para se locomover na capital francesa “lá eu posso fazer tudo a pé, sem me preocupar com transito e congestionamento. Em uma cidade como aquela a gente anda muito, e isso é bom”.
De volta na faculdade, Ana precisava pagar algumas contas e enviar e-mails, para mais tarde participar de uma reunião com a arquiteta Heloise Amado, dona do escritório “Amado e Marcondes”, em parceria com o Sr. Rogério Marcondes.
Horas depois estávamos na reunião. Ana saúda a arquiteta, me apresenta à amiga e senta. A pauta eram dois projetos sustentáveis: Vitra, construção de um edifício, e Parque Catarina, edificação de um conjunto de casas. A engenheira diz para Heloise que em um período de três meses preparou o projeto para as duas construções.
Ela explica detalhadamente os passos a serem dados, olho no olho, voz audível, pronúncias bem articuladas: “precisamos fazer um cálculo para vermos se com a utilização da água da chuva, água cinza, negra e do subterrâneo, que é a água limpa, elaboração de relatórios e análise do sítio (lugar), conseguimos realizar os planos”.
Concluindo, Ana sugeriu um assunto para ser pensado de forma séria, e ser levado aos governos federal, estaduais e municipais: “acredito que o uso de 90 litros de água per capita sem comprometer o conforto e a qualidade do imóvel, deveria ser estabelecido como diretriz de projeto no Brasil”.
Saindo do escritório, a empresária diz: “tenho que ir correndo para casa, viajarei para Salvador hoje à noite”. Ela está trabalhando na capital baiana com a implantação de um Sistema de Gestão da Qualidade e Ambiental para a Incorporadora Syene (empresa imobiliária da Copasa, grande grupo espanhol com atuação internacional e mais de 20 anos de tradição).
A engenheira explica que “trata-se de um projeto de 24 meses, que foi iniciado em fevereiro de 2010”. Mas antes de pegar o avião, ela precisará fazer algumas ligações, vai preparar o Check-in (documento de verificação para que a passagem seja emitida), e arrumar as malas.
Em torno das 18 horas chegamos à sua bela casa, em um condomínio chamado Vila San Pietro na Granja Vianna. Uma residência com três salas. Na primeira, cortinas brancas nas paredes, fotos da família e algumas obras de arte. Na estante, livros, um peixinho de madeira e também objetos de cera, miniaturas de gado, bule e uma bordadeira.
Ao perguntar qual a origem das pequenas imagens, ela responde: “são lembranças do nordeste”. Mesmo mudando de Estado e alcançando o sucesso, ela não nega suas raízes. Livros na estante e revistas em uma cesta posta no chão junto a uma das paredes. Uma bola de fibra de poliéster em cima do sofá, e livros de ilustrações decorativas no meio da sala.
Não é das católicas mais fervorosas, todavia, aceita na sala um símbolo religioso: uma minúscula vela com a imagem de um anjo e a inscrição: “Cathédrale de Reims” (uma das catedrais góticas mais importantes da França). Na segunda sala, mais um espaço aconchegante e descontraído, no centro uma vasilha de cerâmica, lembrança de Belém-Pa. Imagens folclóricas de bonecas de barro, mais fotos da família e diversas miniaturas de carros, inclusive de corrida, com a marca Ferrari, impossível não vê um atraente pebolim (futebol de mesa) e um álbum de fotografias eletrônico da Sony.
Enquanto eu observo o ambiente, ela corre de um lado para o outro. “Vou pegar o avião daqui a poucas horas”. Liga rapidamente para o pai, que é chamado carinhosamente de “painho”, após alguns minutos de conversa, se despede dele, e passa a falar agora com a mãe, “oi mainha, bença mainha, parabéns (pelo aniversário)”. Ana se despede da mãe: “tá bom mainha, tchau”.
De repente ela fala novamente ao telefone com uma pessoa chamada Ângela “oi Ângela, vou ter que ir mais cedo para o aeroporto, porque eu não consegui fazer o check-in, estou sem conexão com a internet aqui em casa”. Depois de alguns minutos, se dirige para mim e explica: “estava falando com minha irmã, ela vai me ajudar a agilizar as coisas, família é isso”.


Ana é uma mulher apegada à família, ela sempre fala dos pais, irmãs, marido e filho. No primeiro andar da casa, mais fotos: uma do casamento, outra do pôr do sol registrado nesse mesmo dia do enlace matrimonial, e mais uma do filho. Ela começa a preparar as malas.
Sugere que eu conheça o escritório da família, “entra, mas está uma bagunça”. Nessa dependência do lar, também se pode ver nas paredes, diversas fotos de familiares e amigos, na estante um livro de sua autoria e co-autoria do Sílvio Melhado: “Preparação da Execução de Obras”. Em toda a casa uma verdadeira exposição de quadros, inclusive obras da autoria do marido e do filho.
As malas estão quase prontas, Ana desce para o térreo, porque falta o principal para a viagem: “vou apanhar o material de trabalho”, são livros, apostilas, mapas, desenhos, entre outros recursos. Mesmo em meio a tanta correria para não se atrasar, eu consigo interrompê-la e pergunto se a empresária joga o pebolim, a resposta é positiva. E ela me faz a mesma interrogação, a resposta é negativa. Ao ficar surpresa, me faz o convite para jogar, eu aceito e jogamos por uns cinco minutos, de repente ela fala um pouco apavorada: “tenho que correr agora, já deu para perceber que minha vida não é nada sedentária”.
Um taxista estaciona na porta, é seu Valdeir, o motorista preferencial da engenheira. Bagagem arrumada, tudo pronto, entramos no carro. Ela como sempre, não deixa de promover a interação entre as pessoas: “seu Valdeir, esse é o Magno, jornalista, está fazendo Pós-Graduação, e como trabalho de final do semestre, está fazendo um perfil Jornalístico de...” (uma personalidade, eu falo), ela ri, e comenta, “é exagero dele, o perfil é de alguém bem sucedido”.
O dia para Ana Melhado foi atípico, não pôde dar aula por causa do exame de vista, e como ela mesma afirmou, “não executei muitas atividades como de costume” (viagens para o interior do Estado, participação de curso, execução de projetos, entre outras), mas, mesmo não sendo uma segunda-feira como as habituais o dia foi produtivo e revelador.
Com persistência e atenção, dá para perceber que realização profissional não é sinônimo de solidão e arrogância. A história retratada mostra que é possível ter sucesso na carreira, em paralelo com a realização pessoal e familiar, dá para conciliar as conquistas materiais com a felicidade no amor. Amor e atenção aos parentes e amigos. Se não for um dos muitos modelos, esse talvez seja o exemplo mais evidente de uma história de sucesso.

segunda-feira, 14 de março de 2011