quarta-feira, 8 de setembro de 2010

O SAMBA COMO PRODUTO DA INDÚSTRIA FONOGRÁFICA

Cultura nas mídias: rádio e televisão


1-Indústria cultural e cultura popular

A indústria cultural apareceu com os primeiros jornais, mas a cultura de massa, para existir, além deles exigiu a presença, nos jornais, de produtos, que alcançariam a grande maioria da sociedade como o romance de folhetim que propagava em episódios ou capítulos, e para um público extremamente amplo, uma arte fácil e, por conseguinte, de mínima qualidade, que se servia de recursos simplificados para ilustrar a maneira como as pessoas viviam na época.
Contavam-se histórias românticas,com o objetivo de condicionar os consumidores àquele conceito de existência humana: sem conteúdo,focado em emoções efêmeras,na conquista de bens materiais e na reprodução de uma arte despojada de valor,por causa de sua fabricação e divulgação sem a contextualização.
Nos tempos hodiernos,os folhetins são representados pela televisão, os capítulos deixaram a forma impressa e se adaptaram à forma televisiva.
Esse tipo de arte é despojado de qualidade,posto ser uma arte inautêntica,fabricada de acordo com a ideologia e os interesses financeiros dos grandes blocos empresariais. Vendem uma forma de vida fundamentada no consumismo, nas futilidades da moda,como se as pessoas só conseguissem se realizar como pessoa e como profissional se adequando ao estilo de vida divulgado pelos meios de comunicação.
A indústria cultural, por meio da massificação da cultura, comercializa produtos que não são feitos por aqueles que os consomem. Fabrica-se, por exemplo, o artista que pode se tratar de um aspirante à posição de músico. Depois da fabricação deste, por meio dos recursos técnicos e das mais variadas formas de marketing como divulgação em rádio, TV, revista, jornais, outdoor, etc., parte-se para a comercialização de sua obra que podem ser CDs, DVDs, entre outras mercadorias.
José Teixeira Coelho Netto (2003: P. 13), disserta sobre a indústria cultural, caracterizando-a como: “revolução industrial, capitalismo liberal, economia de mercado e sociedade de consumo.” A indústria cultural atua entre a cultura popular e a erudita, promovendo a cultura de massa que é um tipo de cultura que nasce da industrialização da cultura popular (música sertaneja, samba, maracatu, cuscuz, vatapá, bumba-meu-boi, tutu de feijão, reisado, e o folclore em geral.), e da erudita (música clássica, artes plásticas, produções acadêmicas). A cultura de massa é o mais claro reflexo da indústria cultural, pois se trata de uma cultura fabricada, que ao invés de retratar os gêneros culturais a que supostamente se propõe, na verdade, desreferencializa os dois e não comunica nenhum conhecimento útil aos consumidores de suas mercadorias.


2-História da música brasileira

A música brasileira, em decorrência do fato de ter um repertório bastante diversificado, é caracterizada como “fruto” de uma mistura cultural. No início do século XVI quando os portugueses atracaram na Bahia de Vera Cruz – Porto Seguro - encontraram um povo alegre, que cantava e dançava ao som de tamboris, atabaque, palmas, e realizava cerimônias, pontuando de forma ritmada hábitos culturais que lhe eram característicos. Os jesuítas foram enviados da Europa, especificamente de Portugal para o Brasil com a finalidade de catequizar e civilizar os selvagens. Na liturgia da missa católica entoavam-se cânticos. Os quais foram estabelecidos como superiores às músicas e cantorias dos indígenas.
O escritor Armando de Carvalho Barros (1974: p. 993) explica o envolvimento dos índios com os padres jesuítas, inclusive na musicalidade, atentando para a tendência natural dos indígenas para a música e a dança. Durante o período colonial, os negros escravos também exerceram um papel relevante na cultura musical brasileira. Eles eram utilizados como músicos. Com a deculturação dos indígenas e a utilização dos negros na execução da música européia, o Brasil se consolida, predominantemente, como um país de cultura musical diversificada e influenciada profundamente pelos europeus.


3-História do Samba

O samba, cuja origem é atribuída aos africanos advindos da África para o Brasil durante o período colonial, é perpassado pela influência de países europeus, mas, se tornou um estilo emblemático na cultura musical brasileira, e símbolo da identidade nacional, inclusive, com fortes características cariocas, por causa dos aprimoramentos que foram implementados no estilo pelos moradores do Rio de Janeiro, e, muito mais que isso, na verdade o samba é um estilo que precisou ser pontualmente definido e transformado em gênero, o que pode ser atribuído aos cariocas.
Os africanos trouxeram sons musicais, traços gestuais, os povos indígenas também possuíam seus rituais festivos com danças e gestos simbólicos, e os europeus que trouxeram suas tradições permitiam a apresentação das músicas dos primeiros povos citados, desde que sofridas algumas alterações. Tempos depois, os cariocas de todas as misturas já efetuadas no samba deram origem a um estilo genuinamente brasileiro, o samba que, ao ser cantado e tocado nos reporta para a história do Brasil em diferentes momentos desde os seus primórdios.
Dentre as suas características originais, está uma forma onde a dança é acompanhada por pequenas frases melódicas e refrães de criação anônima, alicerces do samba de roda nascido no Recôncavo Baiano, e levado na segunda metade do século XIX, para a cidade do Rio de Janeiro pelos negros que migraram da Bahia e se instalaram na então capital do Império. O samba de roda baiano, que em 2005 se tornou um Patrimônio da Humanidade da UNESCO, foi uma das bases para o samba carioca. Com o tempo foram surgindo músicos muito influentes como Mário Reis que no samba é um criador. Com seu perfil elegante e único, ele obrigou Botafogo, que amava o samba (mas, por questões de conveniência não queria aceitá-lo) a abraçá-lo com todas as forças da alma e, a ele agregar novos valores. Mário Reis transportou o samba para o meio aristocrático. Ele foi o mentor da orquestra típica do samba.
Com o triângulo: Mário Reis, Francisco Alves e Aracy Cortes, três sambistas talentosos e empenhados na valorização da música brasileira, tem-se a formação de uma equipe de ouro da história do samba. Mediante diversos interpretes como: Jonjoca, Castro Barbosa, João Petra de Barros, as músicas dos influentes compositores foram sendo cantadas e aprimoradas.
Dentro do estilo samba existem várias ramificações, as quais foram sendo criadas com o tempo, mediante a evolução do samba e a intensificação das apresentações públicas. Com o surgimento de músicos que se interessaram pela música dos morros, foram sendo promovidas diversas inovações, arranjos, e houve um investimento diversificado em produções artísticas musicais.
O resultado de todas as modulações e arranjos implementados no samba é uma variedade de ramificações dentro de um mesmo estilo como: Samba de enredo (o samba carnavalesco tocado nas apresentações dos desfiles das escolas de samba); Samba-canção; Samba de Partido Alto (um dos subgêneros do samba, mais tradicionais, que surgiu na década de 1930, nos terreiros, (que hoje são chamados de quadras) das escolas de samba; Samba sertanejo; Samba-pagode, entre outros.


4- A Indústria Fonográfica no Brasil

A indústria fonográfica é representada por todos os agentes empenhados na produção de um trabalho artístico. Pode-se observar que a produção material e a produção cultural são dois pólos da indústria fonográfica:
1º) Estúdios: Nos estúdios atuam os produtores da cultura como músicos, compositores, produtores, intérpretes e técnicos do som, nesses ambientes, o som é o principal objeto de trabalho, o produto é a “fita master”, que é composta por todo o conteúdo musical a ser transportado para os discos. Os estúdios ficam nas gravadoras que são empresas, representadas por empresários, que devem obrigatoriamente possuir o CNPJ (Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica) e a Inscrição Estadual.
2º) Fábricas: Nas fábricas, por outro lado, trabalha-se sobre objetos como o disco de acetato, que é transformado pelos operadores de galvanoplastia em “madre” a partir da qual os próprios fabricantes produzem as diversas “matrizes”.
As matrizes serão submetidas às prensas, onde os prensores trabalham sobre a massa de vinil, produzindo, o disco que é consumido pelo público


5-Aplicabilidade da Teoria Crítica sobre o objeto:

5.1 – Objeto: O Samba: A teoria crítica que é a principal responsável pelo conceito: Indústria Cultural, explica como a sociedade se condicionou a um modelo pré-estabelecido pelas classes dominantes. A teoria surge da necessidade de teóricos como Theodor Adorno, Walter Benjamin, Max Horkheimer, Marshall McLuhan, pontuar as principais conseqüências sofridas pela cultura por causa da reificação promovida pela indústria cultural instrumentalizada pela classe elitista dominante.
O samba que nasceu nos morros do Rio de Janeiro, e foi alvo de muito preconceito nos primórdios de sua história, retrata o Brasil de uma forma simples, original e melodiosa, mas, devido ao fato de ter se originado nos subúrbios, era sinônimo de pobreza e símbolo da malandragem. Mas, com a crescente propagação do samba e com o empenho de músicos como Otília Amorim que foi a precursora do samba no palco e Mário Reis que dentro desse estilo musical é considerado um criador e introdutor do samba no meio aristocrático ocorre a grande divulgação deste estilo musical, fato que pode ser visto sob dois prismas: se por um lado o samba, mediante sua higienização (remoção dos aspectos de pobreza) e aceitação pela classe média, passou a ser intensamente propagado pelos veículos de comunicação, por outro, ele também se tornou mercadoria, passou a ter características de objeto de consumo. Muitos subgêneros foram criados, causando uma banalização do estilo. Samba ao invés de retratar sentimentos, experiências de vida, enfim, a cultura de um país, passou a ser símbolo de mulher com pouca roupa, cerveja, e, pior, um produto a ser consumido pelo público, de uma forma totalmente descontextualizada.
a)Comercialização e banalização da cultura: É exatamente a comercialização e banalização da cultura que os mentores da teoria crítica analisam. O samba, mais precisamente na década de 1920, que foi um momento de inovações de um grupo de compositores dos blocos carnavalescos dos Bairros do Estácio de Sá e Osvaldo Cruz, e dos morros da Mangueira, Salgueiro e São Carlos, adquiriu características modernas, os anos 20 foram anos que podem ser classificados como a época do boom no estilo samba. Daquele momento em diante surgiriam grandes nomes do samba como Ismael Silva, Ari Barroso, Noel Rosa, Zé Kéti, Nelson Cavaquinho, Paulinho da Viola, Wilson Batista, Martinho da Vila, entre muitos outros artistas; b)Reprodutibilidade técnica das obras de arte: O samba passou a ter contornos elitistas, foi associado a marcas de cerveja pelos meios de comunicação de massa, e foi transformado em produto da indústria fonográfica mediante o rádio, a reprodutibilidade técnica por meio de produtos como CDs e DVDs. Nos dias atuais é exposto também em outras plataformas como mp3, 4..., mídias digitais, rádios online e digitais, entrando no hall de mais uma mercadoria nas prateleiras da cultura de massa, que fora criada pela indústria cultural, a qual é o suporte fundamental da indústria fonográfica.

Nenhum comentário:

Postar um comentário