domingo, 19 de dezembro de 2010

Sarau: outra face da cultura

Em São Paulo, na “Casa das Rosas – Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura”, situada à Avenida Paulista, nº 37, aconteceu no corrente ano, um sarau intitulado: “Poetas da Casa das Rosas”, sob a curadoria da poetisa Srª Maria Alice Vasconcelos, se pôde perceber os objetivos dos participantes que foram explicitados de forma tão nobre, profunda e natural. Demonstraram a busca pela interação entre os agentes sociais por meio dos discussos, músicas e poesias, elementos essenciais dos encontros, e a reflexão dos temas pertinentes à sociedade atual.
Os participantes têm sede pela autêntica cultura, que não seja proporcionada pelos Estados Unidos, Japão e muito menos a China, mas, uma manifestação cultural originada da capacidade criativa e do aprofundamento intelectual dos humanos. Não seria uma mercadoria oferecida pelas indústrias, cujo tempo de duração é extremamente curto e nada acrescenta aos consumidores passivos.
Percebemos que mediante os eventos uma parcela da sociedade projeta despertar e aprimorar a capacidade de inovação e criação dos participantes e demais membros sociais. Para eles, o lúdico despojado da maquiagem tecnológica, é um alvo a ser seguido de forma persistente.
Na casa, cantores, poetas e poetisas se revelam fundamentalmente para si mesmos e para a coletividade. O conteúdo programático do sarau é bem diversificado e transmitido ordenadamente. Apresenta-se um momento propício para o auto-conhecimento e a perfeita percepção do outro, que não deixa de ser o igual enquanto ser humano pensante e capaz de se “lapidar” continuamente por intermédio do crescimento interior.
Por mais que os produtos nacionais e internacionais como: filmes, games, CDs, DVDs, entre outros objetos efêmeros tenham sido forjados para entreter os compradores, não podem se aproximar da utilidade da cultura elaborada pela criatividade mental e transferida sem tanta cobertura tecnológica. Mas, pela sabedoria e habilidade interpretativa, mediante as quais se retrata primorosamente a arte, o cotidiano, e as perspectivas de futuro respaldadas no conceber teórico e visionário frutificado pela aquisição dos saberes.
Enquanto as massas dos tempos hodiernos devoram, o até então último modelo de celular, brinquedos, etiquetas fixadas em sapatos e roupas, as mais recentes versões de carros das diversas marcas existentes, e, as enxorradas de programas televisivos revestidos de futilidade; nos saraus, por outro lado, vivência-se a cultura em sua face áurea, que nem todos conseguem conhecer, talvez por que não queiram ou porque estejão em um estágio muito prematuro para perceber a grandeza da cultura original.
Nos estudos culturais na América Latina, oriundos da Teoria Culturalista, cujos expoentes são: Jesus Martin Barbeiro, Nestor Canclini, Edgar Morin, entre outros, a função principal é investigar as características dos países latinos com suas particularidades e pontuar analiticamente como a mídia as apresenta aos telespectadores. Pensa-se na necessidade do acesso a informação por parte dos integrantes das diferentes culturas. O intuito é descobrir e demonstrar como eles podem possuir um conteúdo portador de pormenores relevantes, que não são exibidos, por diversas razões, pelos meios de comunicação.
No ponto de vista de Martin Barbeiro, a mídia ao trabalhar a cultura latino-americana não o faz como deveria, pois faz de forma generalista (ampla, mas superficial) e não sistemática.
Entendemos, todavia, que não existe por parte da mídia oficial o interesse em retratar a cultura sem o aparato tecnológico. Os produtores da televisão, partem do princípio que o importante primordialmente nos programas é a conquista da audiência. O foco é vender o espetáculo, o produto, a imagem, a ideologia dos mantenedores do veículo, enfim, apresentar uma realidade fabricada de acordo com os interesses das empresas de comunicação, blocos empresarias e governos: federal, estaduais e municipais.
Falta a autenticidade e a criteriosidade na apresentação da cultura brasileira, que assim como as demais culturas latino-americanas é tão diversificada e rica. Na tentativa de fugir das problemáticas sociais como: violência, desemprego, falta de abrigo para moradores de rua, fome, salário defasado, injustiça social, corrupção, ausência de programas sociais, impunidade, falta de infra-estrutura e cronograma satisfatórios nas escolas do país, a mídia que prioriza os interesses comerciais transmite o irreal, não aprofunda as discussões, e se torna cúmplice do sistema sociocultural e politico fabricante de acomodados .
Para Barbero o estudo dos países da América Latina deveria levar em conta o histórico civilizatório de cada país, pois, cada nação teve uma forma de colonização, urbanização, revolução industrial, miscigenação e consolidação do modelo político, de maneira bastante diferente.
Em se tratanto estritamente do Brasil, sabemos que o país foi colonizado em um primeiro momento pelos portugueses, depois por outros povos como: holandeses e alemães, também vindos da afamada Europa.
Desta forma, que ao se falar e representar a cultura popular do país, assim como orienta o antropólogo Nestor Canclini, se leve em conta as diferenças cultivadas pelos habitantes de cada região, seus hábitos, crenças e tradições, e porque não dizermos, deficiências peculiares. São essas que os grandes empresários da comunicação não pretendem mostrar.
Os saraus objetivam exatamente estudar e tratar das temáticas sociais de forma desmascarada e objetivando a busca de soluções.
Pode parecer utopia, mesmo porque, no Brasil, a caminhada aparentemente ainda será muito longa para um estágio avançado em todos os aspectos socias: culturais, econômicos, políticos e educacionais. Mas, podemos vislumbrar que, por intermédio da verdadeira intelectualidade, intensificação da interação entre os agentes sociais éticos, conhecedores dos direitos e deveres e reivindicadores incorrigíveis, promova-se o humano e o projeta, simulataneamente, para uma vida nobre em sua cabalidade, com refinamento comportamental, crescimento da capacidade no universo artístico e alcance da cultura em seu ângulo mais inquietante e acresentador aos apreciadores e promotores, capaz de recriar novos parâmetros para as relações interpessoais.

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